(Antologia Poética, 1977, Vinícius de Moraes)
Ele era um menino valente e caprino, /Um pequeno infante sadio e grimpante. / Anos tinha dez e asinha nos pés. /Com chumbo e bodoque era plic e ploc, /o olhar verde gaio parecia um raio para tangerina pião ou menina. /Seu corpo moreno vivia correndo, /Pulava no escuro não importa que muro e caia exato como cai um gato. /No diabolô que bom jogador, /Bilboque então era plim e plão. /Saltava de anjo melhor que marmanjo e dava o mergulho, sem fazer barulho./ No fundo do mar sabia encontrar, /Estrelas, ouriços e até deixa dissos. /As vezes nadava um mundo de água, /E não era menino por nada mofino, /Se entro uma vez embolo com três. /Sua coleção de achados do chão, /Abundava em conchas botões,/Coisas tronchas, seixos, caramujos marulhantes, /Cujos colocava o ouvido para entendido./Rolhas espoletas e balacachetas, /Cacos coloridos e bola de vidro. /Em gude de bilha era maravilha, /Em bola de meia Jogando de meia-direita,/Ou de ponta, passava da conta, /De tanto driblar. /Amava era amar. /Amava Leonor, menina de cor; /Amava as criadas, varrendo as escadas; /Amava as gurias, /Da rua, vadias; /Amava suas primas, com beijos e rimas; /Amava suas tias, de peles macias; /Amava as artistas, das cine-revistas; /Amava a mulher a mais não poder. /Por isso fazia seu grão de poesia, /E achava bonita a palavra escrita. /Por isso sofria de melancolia, /Sonhando o poeta, /Que quem sabe um dia poderia ser.
2 comentários:
com esses seus textos nem da gosto fazer um blog.. tem que escrever um livro, coisa parecida.. tu leva jeito ^^
Bruna
Cara, adoro esse poema. Por isso, aqui vai o texto integral tal e qual Vinicius recita em sua "Antologia Poética", de 1977:
O Poeta Aprendiz
(Antologia Poética, 1977, Vinícius de Moraes)
Ele era um menino
Valente e caprino
Um pequeno infante
Sadio e grimpante
Anos tinha dez
E asinha nos pés
Com chumbo e bodoque
Era plic e ploc
O olhar verde gaio
Parecia um raio
Para tangerina
Pião ou menina
Seu corpo moreno
Vivia correndo
Pulava no escuro
não importa que muro
E caia exato
Como cai um gato
No diabolô
Que bom jogador
Bilboquê então
Era plim e plão
Saltava de anjo
Melhor que marmanjo
E dava o mergulho
Sem fazer barulho
No fundo do mar
Sabia encontrar
Estrelas, ouriços
E até deixa dissos
Às vezes nadava
Um mundo de água
E não era menino
Por nada mofino
Sendo que uma vez
Embolou com três
Sua coleção
De achados do chão
Abundava em conchas
Botões, coisas tronchas
Seixos, caramujos
Marulhantes, cujos
Colocava o ouvido
Qual entendido
Rolhas espoletas
E balacachetas
Cacos coloridos
E bola de vidro
Em gude de bilha
Era maravilha
Em bola de meia
Jogando de meia-direita
Ou de ponta
Passava da conta
De tanto driblar
Amava era amar
Amava Leonor
Menina de cor
Amava as criadas
Varrendo as escadas
Amava as gurias
Da rua, vadias
Amava suas primas
Levadas e opimas
Amava suas tias
De peles macias
Amava as artistas
Das cine-revistas
Amava a mulher
A mais não poder
Por isso fazia
Seu grão de poesia
E achava bonita
A palavra escrita
Por isso sofria
De melancolia
Sonhando o poeta
Que quem sabe um dia
poderia ser
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