O filme me fez pensar demais sobre a perda de memória e a situação de de repente você acordar um dia e não se lembrar de muito tempo de sua vida. Mas me fez refletir principalmente sobre o amor.
O amor tem motivo?
...tem tempo previsto?
...tem fim?
...como começa?
Tantas dúvidas já deixam mais que comprovado que quem aqui vem discorrer sobre este tema é um leigo. Mas existe alguém que não seja leigo no amor?
Eu ouso dizer, por livre e pura audácia e questão de opinião, que ninguém é mais profissional no amor do que quem está amando. Não basta já ter amado. O pretérito inclusive é um fator negativo no caso desse substantivo chamado amor.
A princípio, se o amor é no pretérito, significa que já não existe mais. Se não existe mais é porque algo deu errado e tudo o que da errado nos ensina. Provavelmente uma das primeiras coisas que fez parte da evolução do homo sapiens desde os primórdios da humanidade, graças a Deus, foi a capacidade de aprender e fazer diferente numa próxima situação similar. Mas esse dispositivo está tão aguçado que ao tentar nos proteger, as vezes acaba nos enganando. No amor isso se aplica. A cada desilusão criamos mecanismos de auto defesa que nos impede de tomar certas atitudes. Já reparou como nos primeiros namoricos, quando começamos a experimentar a sensação de estarmos apaixonados, não medimos nossas atitudes?
Se da vontade de falar, nós ligamos; se da vontade de elogiar, elogiamos; se da vontade de ver, vamos até a casa da pessoa e por essa ser uma situação tão gostosa e nova, as vezes ficamos até "grudentos" demais. A primeira vez que você se ilude com alguém (quando a paixão já não tem mais aqueeeela intensidade) e ouve falar que você pega no pé demais é até difícil de acreditar. O contrário também se aplica. Não é uma frase incomum: Você não me da atenção!
Esse é só um exemplo das primeiras atitudes mais comuns, mas são várias outras coisas que acontecem e que você sempre descobre no final do relacionamento em meio a brigas.
Como seria bom se errássemos tudo que desse pra errar no primeiro relacionamento. Assim todos os outros seriam perfeitos. Apesar que se fosse perfeito, não seriam todos os outros. Seria apenas o próximo. De qualquer forma, ta aí uma coisa que não acontece. Acho que poderíamos viver 200 anos, 300, ou ainda, vamos chutar o balde, eternamente. Nunca poderíamos errar tudo pois relacionamento é algo complexo e que da margem pra muitos erros.
Será que a partir disso tiramos uma descrição para o que é o amor?
O amor consiste em um relacionamento entre duas pessoas (vamos nos manter no convencional) onde a chave para a boa convivência é cometer o mínimo possível de erros.
Vamos tentar teorizar mais um pouco.
Segundo a Barsa, o amor se caracteriza por "sentimento máximo de afeto, atração ou desejo. Pode ser inspirado e experimentado por pais, filhos, amantes, amigos e divindades".(©Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda., 2007)
No Aurélio eu encontrei o seguinte verbete:
amor(ô)[Do lat. amore.]
S. m.
1. Sentimento que predispõe alguém a desejar o bem de outrem, ou de alguma coisa;
2. Sentimento de dedicação absoluta de um ser a outro ser ou a uma coisa; devoção, culto; adoração;
3. Inclinação ditada por laços de família;
4. Inclinação forte por pessoa de outro sexo, geralmente de caráter sexual, mas que apresenta grande variedade de comportamentos e reações.
No aurélio eles ainda conseguiram fazer classificações para o amor.
- Amor à primeira vista - Amor súbito, ao primeiro encontro.
- Amor carnal - O que busca a satisfação sexual.
- Amor físico - Amor carnal.
- Amor livre - O que repudia a consagração religiosa ou legal, representada pelo casamento.
- Amor platônico - Ligação amorosa sem aproximação sexual.
Deixemos a resposta do que é o amor pela visão cognitiva da língua portuguesa e vamos para o lado científico.
Amor é sentimento ou emoção?
Podemos considerar emoção como “um conjunto complexo de reações químicas e neurais, formando um padrão” (DAMÁSIO,2000, p.74).
O sentimento em si pode ser considerado como uma experiência mental privada de emoção. Para simplificar é algo que você sente não fisicamente. O sentimento pode provocar uma emoção como por exemplo calafrios, sudorese ou ainda uma liberação intensa de endorfina (produzida na hipófise e liberada para o sangue juntamente com outros hormônios, é uma substância natural produzida pelo cérebro que desperta uma sensação de euforia, bem estar, prazer).
O amor sem dúvidas é uma mistura de sentimento e emoção.
Não contente com essas descrições e já saindo do campo racional para o campo sentimental vou tentar então descrever o significado do amor da forma que mais combina com a palavra, um poema. O primeiro que me veio em mente foi o Sonêto 11 de Camões mas seria um tanto quanto obvio e sem graça pra definir algo que já tentamos de tantas formas. Então o escolhido foi o poema amar.
Amar
Que pode uma criatura senão,entre criaturas, amar?
Amar e esquecer,amar e malamar,amar, desamar, amar?
Sempre, e até de olhos vidrados amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,sozinho, em rotação universal, senão rodar também, e amar?
Amar o que o mar traz à praia, o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,o que é entrega ou adoração expectante,e amar o inóspito, o cru,um vaso sem flor, um chão de ferro,e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,doação ilimitada a uma completa ingratidão,e na concha vazia do amor a procura medrosa,paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossaamar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.
Carlos Drummond de Andrade