SOLILÓQUIO DE UM VISIONÁRIO
(Augusto dos Anjos)
Para desvirginar o labirinto,
Do velho e metafísico Mistério,
Comi meus olhos crus no cemitério,
Numa antropofagia de faminto!
A digestão desse manjar funéreo,
Tornado sangue transformou-me o instinto,
De humanas impressões visuais que eu sinto,
Nas divinas visões do íncola etéreo!
Vestido de hidrogênio incandescente,
Vaguei um século, improficuamente,
Pelas monotonias siderais...
Subi talvez às máximas alturas,
Mas, se hoje volto assim,com a alma às escuras,
É necessário que inda eu suba mais!
--------------------------------------------------
A UM AUSENTE
(Carlos Drummond de Andrade)
Tenho razão de sentir saudade, tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto. Detonaste a vida geral, a comum aquiescência de viver e explorar os rumos de obscuridade sem prazo sem consulta sem provocação até o limite das folhas caídas na hora de cair.
Antecipaste a hora. Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave do que o ato sem continuação, o ato em si, o ato que não ousamos nem sabemos ousar porque depois dele não há nada?
Tenho razão para sentir saudade de ti, de nossa convivência em falas camaradas, simples apertar de mãos, nem isso, voz modulando sílabas conhecidas e banais que eram sempre certeza e segurança.
Sim, tenho saudades. Sim, acuso-te porque fizeste o não previsto nas leis da amizade e da natureza nem nos deixaste sequer o direito de indagar porque o fizeste, porque te foste.
--------------------------------------------------
ORAÇÃO DA SERENIDADE
(Autor Desconhecido)
Concedei-no Senhor!
A serenidade necessária,
Para aceitar as coisas,
Que não podemos modificar;
Coragem,
Para modificar aquelas que podemos,
Sabedoria,
Para distinguir umas das outras.
sexta-feira, 4 de maio de 2007
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário